segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Continuação...

  A despedida de Cauã.

Minha vida estava totalmente de cabeça pra baixo. Tive que assumir uma responsabilidade tão cedo e já estava até me acostumando com a ideia de ser pai quando me assustei ainda mais, ao saber que essa mesma responsabilidade foi embora tão rápido.
Eu achei que a dor de perder meu filho tinha sido a maior de todas que eu tinha passado na minha vida, até perder a Luíza e descobrir que nada se compara a dor que eu estou sentindo agora.
 Eu não sabia o que fazer da minha vida, quando tudo parecia estar dando certo, acontecia alguma coisa para acabar com a minha alegria.
  Ao ficar sabendo da doença da Luíza, eu tinha certeza que ela iria sair dessa, que ela iria ficar bem e que nós iriamos ficar juntos. Eu queria acreditar nisso. Ela já fazia parte de mim. No dia que a mãe dela me ligou para eu ir no hospital, não imaginava que seria uma despedida. 
 Quando recebi a noticia que ela havia falecido, a minha vida acabou naquele mesmo instante. Uma parte de mim foi junto com ela.
  Me lembro até hoje da nossa ultima conversa. Bia entrou primeiro e me chamou assim que terminaram de conversar. Eu entrei no quarto, notei que seus olhos ja estavam desanimados e estava mais pálida do que de costume. Ela sorriu para mim e eu tentei forçar um sorriso também, mas não consegui segurar a barra. Comecei chorar, não aguentava vê-la sofrendo daquela forma. A quimioterapia estava acabando com ela.
Ela, tentando ser forte, enxugava suas próprias lágrimas e continuava a sorrir pra mim. Sentei na cama, ao lado dela. Ela encostou sua cabeça em meu ombro e começou a dizer:
  - Eu te amo, sabia? Desde o primeiro momento que vi você saindo daquele carro e olhei para os seus olhinhos azuis, eu percebi que você era a pessoa que Deus havia escolhido pra mim...
  - Eu também te amo, sua boba. - eu disse sorrindo, tentando disfarçar a dor que estava no meu peito. 
  - Eu vou sentir sua falta, onde quer que eu esteja...
  - Para de ficar falando essas besteiras! Você vai estar aqui, comigo! Eu não vou te deixar nunca mais na minha vida.
  - Eu sei que vou morrer,amor! 
  - Para de ficar falando isso, Luíza! Todos nós vamos morrer uma hora e a sua não é agora!
  - Para você, Cauã. A quem nós queremos enganar?  Cada dia que passa eu estou ficando pior, o meu corpo não reage mais aos tratamentos e um transplante não é assim tão fácil. Acha que ainda tenho esperanças? Acha que estou feliz por ver  todos vocês sofrerem desse jeito?
  - Pois devia ter esperanças! Eu tenho e sei que não estou errado! A gente sabe que não é fácil, mas se você desistir, se entregar a doença, fica muito mais difícil, não acha? Eu acredito em milagres e tenho certeza que Deus não vai querer tirar você de mim. Não de novo, não agora que esta tudo bem.
  - Tudo bem amor, a ultima coisa que eu quero agora é brigar com você.Toma..
 Ela esticou o braço até a mesinha ao lado da sua cama e pegou um envelope. Ela continuou: 
 - O que é isso, Luíza? - eu perguntei.
  - Escrevi pra você hoje. Mas por favor, não leia agora! 
  - Como quiser, amor.
  Ficamos um tempo em silêncio, fiquei mexendo em seu cabelo, até que ela disse:
  - Posso te pedir uma coisa?
  - Qualquer coisa, amor!  
  - Me dá um beijo?
  Eu fiquei surpreso quando ela me pediu isso. Por que a verdade, desde que ela se internou, nós não tivemos mais esse tipo de contato. Eu a beijei por alguns minutos, depois ela ficou deitada sobre o meu peito. Após alguns minutos, ela pediu pra que eu saísse do quarto, por que ela queria falar com os pais dela. 
  Quando eu já estava na porta, pronta pra sair, ela disse:
  - Cauã...
  Eu a olhei novamente a ela:
  - Eu te amo! - ela finalizou.
  - Eu também te amo! - falei saindo do quarto.
  Quando voltamos da lanchonete e o Dr. Saulo nos contou sobre a morte dela, eu não conseguia acreditar. Comecei a correr pelo corredor do hospital em direção ao quarto dela. Os pais dela e Bia tentaram me segurar, mas chamavam, mas eu não conseguia ouvir e nem pensar em nada. Ao chegar no quarto, me abaixei em frente a porta e chorava muito. Não conseguia colocar na minha cabeça, que ao abrir a porta, a minha Luíza não estaria mais ali. 
  Abri a porta e a vi deitada na cama, chorei ainda mais desesperadamente. Me aproximei da cama e segurei uma de suas mãos, ainda estava quente e ela parecia um anjo ali deitada. Eu estava esperando ela abrir os olhos a qualquer momento e pedir pra levá-la pra casa. Mas ela não abriu. Me deitei na cama ao lado dela e a abracei. Os pais dela, Bia e o Médico chegaram no quarto. Bia tentou me tirar de perto dela, as Luzia e Roberto falaram pra me deixar mais um pouco ali com ela. 
Saíram do quarto e me deixaram sozinho com ela. Encostei a minha cabeça junto á ela e disse:
  - Amor, eu sei que esta me ouvindo em algum lugar. Queria que soubesse que não sei como será a minha vida sem você. Me desculpa se eu não fui o melhor namorado, mas eu tentei dar o melhor de mim. Eu sei que tiveram vezes que você quis desistir de nós, mas não desistiu. Eu te agradeço por isso. Me perdoa.
  Respirei fundo e continuei :
  - Por que você me deixou? Por que fez isso comigo? 
  Nessa hora, os médicos chegaram e me arrancaram de perto dela. Eu gritava e chorava muito. Os pais dela me levou pra casa. Tomei um banho e fui direto para o meu quarto. Joguei a carta em cima da cama, minha mãe sentou na cama também. Eu deitei no colo dela, a dor que eu estava sentindo eu não tinha nem mesmo palavras para descrever.
  Eu nunca tinha sofrido tanto na minha vida como estava sofrendo naquele momento. O velório dela seria no outro dia de manhã e o enterro na parte da tarde. Eu não quis aparecer no velório e só apareci no enterro quando ja estavam jogando os ultimos restos de terra. Joguei algumas flores no tumulo e fui pra casa sem dizer uma palavra. Subi direto para o meu quarto e ao deitar na minha cama, encostei a cabeça num pedaço de papel. Era a carta que Luíza havia dado pra mim. Imediatamente, me sentei na cama e abri a carta que dizia o seguinte:

Cauã,
Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida.
Te amo com todas as minhas forças e é justamente esse amor que me faz estar aqui hoje,
Porém, sei que não estou mais conseguindo lutar pela minha vida, ela esta escapando de mim, sem que eu consiga fazer algo.
Por isso, amor, quero te dizer antes que seja tarde , que apesar de tudo que nós passamos juntos, de todas as nossas brigas, eu o amo muito.  E não importa onde eu esteja, eu vou continuar te amando, te protegendo.
Você é a pessoa mais maravilhosa que eu  já conheci na minha vida.
Nunca vou esquece-lo.
Com carinho,
Luíza. " 
Ao terminar de ler a carta, ela estava molhada de minhas lágrimas. E eu tenho a certeza que ela também sabia do quanto eu a amo. Se eu tivesse outra oportunidade, outra chance de tê-la novamente comigo, eu nunca iria deixá-la partir.
 Me arrependo até hoje de não ter feito nada melhor para que ela continuasse aqui comigo. Mas ela sabe que não foi minha culpa se não consegui, por que eu tentei e muito.
  Hoje, após 1 ano que ela se foi, ainda não acredito que tudo aconteceu. Mas por um lado, talvez foi até melhor assim, não aguentava mais vê-la sofrendo daquele jeito.
  Não consigo estar com mais ninguém. Eu sinto falta da sua voz, do seu sorriso, do seu cheiro, da doçura com que você tratava as pessoas, enfim, sinto falta dela por completo. Coloquei fotos delas espalhadas pela minha casa, por que talvez assim, eu sinta ela mais perto de mim, como se ela ainda estivesse viva.
 A minha sobrinha me lembra muito ela quando éramos pequenos e acabei me apegando muito á ela por isso. 

No final, encontrei uma maneira de tirar todo esse sofrimento da minha vida. Tomei a decisão de virar padre! Começo o seminário amanhã.
Enfim, Luíza, meu grande e eterno amor... Eu te amo e se não posso ter você comigo, não quero nenhuma outra mulher. Que Deus esteja contigo e espero que eu também esteja logo logo...




                                                                                                                                                                                                                                     FIM.

Nenhum comentário:

Postar um comentário