Bia havia me convidado para passar uns dias com ela. Além de ser o aniversário da pequena Luiza, eles estavam comemorando a casa nova.
Era uma cidadezinha bem calma, onde se viam crianças brincando pela pracinha,logo á frente havia um parque onde tinha um logo em que os patinhos passavam a maior parte do tempo. Parecia até o parque de Madalena, onde Luíza gostava de ficar.
Logo que entrei para o seminário, quase não via mais a minha família. Em quase 3 anos, só os vi quatro vezes: sempre no natal e em um aniversário de casamento dos meus pais.
Estar indo para a casa de Bia, era uma oportunidade para tentar conviver com eles novamente..."
( ... )
Assim que Cauã chegou, a pequena Luiza foi abraça-lo, seguida de Paulo e Bia.
- Como vai a minha pequena? - ele disse.
- Eu estou bem, tio.
- Como você esta grande mocinha, o que sua mãe anda te dando?
- Essa menina come tudo que vê pela frente. - disse Bia sorrindo.
Cauã colocou Luiza no chão e agora cumprimentava Paulo e Bia:
- Como esta Paulo? Oi, Bia... tudo bem, mana?
- Que bom que veio Cauã, falei com Paulo que você iria vir,mas ele não acreditou! Eu estou bem, melhor agora!
- Como vai cunhado? Eu estou ótimo. Pra ser sincero, não acreditei mesmo não. Você vive ocupado desde que entrou para o seminário, se isolou...
Bia deu uma cotovelada em Paulo e disse:
- Não liga pra o que ele esta dizendo, maninho!
- Está tudo bem, Bia. Ele esta certo! Desde que entrei para o seminário, não tive mais vida social.
- Vamos andando? Coloque suas coisas no carro. - disse Bia rapidamente, mudando de assunto.
Cauã sentou ao lado de Luiza no carro:
- Tio, sabia que meu pai vai fazer uma festa bem grandona pra mim?
- Nossa...serio? E como vai ser essa festa?
- Sim! Vai ser das princesas e eu vou ganhar um montão de presentes...
- Mas que menina sortuda, gente! Você vai me dar um pouco dos seus presentes?
- Te dou sim, tio...Metadinha! - disse ela sorrindo.
Cauã começou a morde-la e a beija-la sem parar. Depois de alguns longos minutos, estacionaram o carro. Luiza, já toda eufórica,começou:
- Tio Cacá, você tem que ver o meu quarto, é todo rosa e minha mãe colocou um monte de bonecas lá.
Ela pegou a mão de Cauã e começou a puxar pra dentro do quintal:
- Acalme-se Luiza. Deixa seu tio respirar... - disse Paulo.
- Não se preocupe, Paulo. Adoro ficar com ela.
Paulo nunca aceitou o fato de Cauã ter entrado no seminário no intuito de fugir do sofrimento que a morte de Luíza havia lhe causado. Bia o deixou sozinho com Cauã e foi para a cozinha terminar de preparar o almoço. Ao olhar para a instante, Cauã viu uma foto onde tinha ele, Luíza e Bia numa festa de natal. Ele levantou do sofá e se aproximou do porta-retrato. O sorriso vivo da Luíza, era presente na foto.
" Como era linda a minha Luíza..." - ele pensou.
Paulo interrompeu seus pensamentos:
- Você ainda não se esqueceu dela, né?
- Sei falar que sim, estarei mentindo... - ele riu. - Ela tinha um brilho, um jeito diferente de viver, uma alegria inexplicável que marcou a minha vida!
- Se você gosta tanto dela ainda, porque não desiste dessa ideia maluca de virar padre? Tenho certeza que ela não está nem um pouco feliz com isso...
- Não é tão fácil assim, como parece! Eu precisava de uma base pra me apoiar, senão eu ia cair junto com ela. E essa base eu encontrei lá.
- Mas isso foi naquela época, mano. Você é um homem hoje e é muito mais forte do que pensa. Já superou tanta coisa, tenho certeza que pode superar isso também. Basta se permitir... Tu tem que acordar pra vida, viver um dia de cada vez. Não pode parar a sua vida porque a Luíza se foi.Ela não quer isso pra você...
- Eu sei, eu sei. Mas confesso que ainda tenho um pouco de medo!
- Não precisa ter! Eu e a Bia, juntamente com sua família e amigos, estamos aqui pra te apoiar... Já se passaram quase 4 anos que ela morreu. Você precisa retornar a sua vida, meu amigo.
- Você esta certo... Vou pensar nisso!
Bia entrou na sala e os convidou para sentarem na mesa, pois o almoço já estava pronto. Paulo deu uns tapinhas nas costas de Cauã e se encaminharam para a sala de jantar. Após o almoço, Paulo voltou ao trabalho e Bia foi lavar umas roupas de Luíza. Então, Cauã resolveu levar a pequena no parque.Enquanto ele observava Luíza subir e descer pelo escorregador, pensava em sua vida, nas coisas que Paulo havia falado pra ele, se realmente havia tomado a decisão certa pra ele mesmo. Se assustou ao sentir uma sacola cair sobre os seus pés:
- Ai, me desculpa! Me atrapalhei toda aqui e acabei derrubando tudo em cima de você!
- Que isso, está tudo bem! - disse ele, pegando a sacola do chão.
Ao levantar sua cabeça, Cauã deparou-se com uma mulher ruiva, de cabelos cacheados e olhos castanhos, tinha umas pequenas sardas no rosto e demonstrava estar bastante envergonhada. Ela apressou-se em se apresentar:
- Obrigada! - disse, pegando a sacola da mão de Cauã. - Me chamo Alice, prazer!
- O prazer é todo meu, Alice! Me chamo Cauã. - disse ele, meio desajeitado.
Já havia algum tempo que ele não tinha nenhum contato com uma mulher.
- Posso me sentar com você, até eu organizar essa bagunça de papéis aqui? - perguntou ela, mostrando uma pasta cheia pra Cauã.
- Sim, claro! Me desculpa a falta de educação...
Alice sorriu:
- Não foi nada! Mas então... É novo por aqui? Mudou-se a pouco tempo?
- Não, vim passar uns dias na casa da minha irmã. Mas não pretendo demorar, tenho muitas coisas pra resolver.
- Entendo!
Ela o olhou bem nos olhos.
- Você não me é estranho. Tenho a impressão que já te vi em algum lugar. Já veio pra esses lados?
- Não, é a minha primeira vez!
- Ah sim... Que mal lhe pergunte, quem é sua irmã?
- Beatriz... Ela mora na rua de cima.
- A esposa do Paulo, advogado?
- Sim, ela mesmo. Você a conhece?
- Claro, ela é a minha vizinha! Moro do ladinho da casa dela. Conversamos quase todos os dias pelo muro.
Ela sorriu e continuou:
- Hum, agora sei de onde eu te conheço! Ela já me falou de você, me mostrou algumas fotos. Você está num seminário, não é isso? Vai virar padre...
-Isso mesmo! Vejo que já me conhece bem.
Os dois sorriram.
- Me desculpa a indelicadeza, mas acho um desperdício você virar padre!
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