segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Continuação...

Naquela mesma semana, comecei o tratamento. Os médicos eram muito bacanas e me tratavam super bem. Os primeiros dias na quimioterapia foram difíceis, pois os medicamentos eram muito fortes. Em todos os momentos, Cauã estava do meu lado. Eu não queria que ele me visse naquele estado. Eu vomitava muito e mal conseguia sair da cama. Eu pedi que ninguém soubesse da minha doença, pelo menos por enquanto. 
  Hoje comecei a ver algumas fotos de quando eu era criança. Vi os olhos azuis de Cauã, o cabelo pretinho de Bia e me lembrei de tudo, de como era bom aquele tempo, que não tínhamos que se preocupar com nada...
  Os meses foram passando e o meu tratamento estava ficando cada vez mais intenso. Por causa dos remédios muito fortes, acabei ficando meio lesada, fraca. Por esse motivo, tive que ser internada e aí todo mundo ficou sabendo que eu tinha leucemia. Meus amigos vinham me visitar sempre que podiam e eu ficava super feliz. 
 Meu cabelo caia muito por causa da quimioterapia, então tive que raspar a cabeça. Cada fio do meu cabelo que caia, eu sentia que era um ponto a mais para a doença. E percebi que ela estava na minha frente naquela luta.
  Fiquei morrendo de vergonha e chorei " horrores". Eu não queria que ninguém me visse daquele jeito. Mas no outro dia, meus pais estavam no quarto junto com Bia e Cauã. E adivinhem? Meu pai e Cauã também estavam carecas. Eles haviam raspado a cabeça pra que eu pudesse me sentir melhor... Me emocionei muito e só conseguir dizer:
  - Obrigada! Vocês são os homens da minha vida. É por causa de vocês que estão aqui hoje, que a cada dia, eu luto pela minha vida. Eu amo muito vocês! 
Num certo dia, recebi uma visita inesperada: Carla! 
Ela estava parada na porta e eu abri os meus olhos. Estava sentindo um pouco de dor por causa do tratamento. Quando a vi, eu ri para ela e a convidei para entrar. Ela se aproximou e se sentou na cadeira ao lado da minha cama.
  - Oi, Carla... - eu disse.
Por um instante eu me senti tão horrível por ver a Carla linda e eu careca, magra com cara de doente.
  - Luíza... - ela começou. - Eu sei que fui a pior pessoa com você desde que nos conhecemos, mas...
  - Não precisa fazer isso, Carla! - eu a interrompi.
  - Não, eu preciso fazer isso! Eu quero muito me desculpar com você. Eu sei que mesmo quando eu e Cauã namorávamos, era em você que ele pensava o tempo todo. Isso me doía em mim, por saber que o cara que eu amo, era louco apaixonado por outra pessoa. Mas eu não posso culpar ele por isso, você é uma pessoa maravilhosa! 
  Eu peguei em sua mão.
  - Esta mais que desculpada Carla. Obrigada por vir aqui.
  Ela estava querendo chorar, mas tentava se manter durona. Eu continuei:
  - Queria te pedir um favor...
  - Pode falar! 
  - Se... se acontecer alguma coisa comigo, cuida do Cauã pra mim? Ele é meio doidinho, sabe, mas é uma das coisas mais valiosas que eu tenho. E sei que você cuidará bem dele...
  - Por favor, Luíza. Não me peça isso! Eu sou a pior pessoa pra fazer isso! Você sabe... - ela já não se continha, deixava algumas lágrimas caírem.
  - Claro que não. Você ja o fez tão feliz, sei que tem capacidade para fazer novamente...
  - Vou tentar! Preciso ir...
 Ela se levantou e me surpreendeu ao me beijar a testa.
  - Se cuida! - ela disse por fim.
 E saiu pela porta do quarto. 
A cada dia eu sentia que estava perdendo o jogo. Num certo dia, eu estava no quarto com minha mãe, quando o Dr. Saulo entrou. Pediu para conversar com nós duas e nos disse que meu corpo não estava mais reagindo aos tratamentos e que agora, só um transplante de medula iria poder me salvar.
  Quando entrei no hospital, pedi tanto para a minha família quanto para o meu médico não esconder nada de mim. 
 Queria estar por dentro de tudo que acontecia comigo. Mas eu sabia que eles estavam mentindo pra mim, eu podia ver nos olhos dele que eu não tinha mais muito tempo de vida...

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