terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Continuação...

 Cauã pegou na mão de Alice:
  - Não se
preocupe, a partir de hoje pode contar comigo para qualquer coisa. Eu vou me
tornar padre tenho que me acostumar a ouvir as 
pessoas. Mas
vou te dar um conselho por experiência própria: Não desperdice seu tempo,
porque quando você perceber pode ser tarde demais.
  - Obrigada, é muito bom saber que posso
contar com alguém. Mas... O que houve com você? Por que deste conselho?
 Cauã contou sobre Luiza para Alice e ela ficou
envergonhada.
  - Me desculpe, não queria ser tão indelicada.
  - Está tudo bem, já estou acostumado com este
assunto. Faz parte da minha vida e me persegue há anos. – Cauã sorriu. – Mudando
de assunto, desculpe perguntar, mas aquela menina que estava com você lá no
parque aquele dia brincando com a Luiza, é sua filha?
 Alice sorriu:
  - A Laura? É como se fosse, ela é minha
afilhada. Só que a mãe dela, que era minha melhor amiga faleceu ao dar a luz a
ela, desde então eu ajudo o pai a cuidar dela.
  - Sinto muito pela sua amiga, mas muito
bacana da sua parte cuidar dela. Você esta estudando ainda ou já terminou? –
Disse Cauã tentando não dar mais furos. 
  -  Já
terminei a faculdade. Me formei em Veterinária. Meus pais montaram uma clínica
pra mim... Deram-me de presente pela formatura.
  - Que bom! A Bia esta quase terminando a dela
também. Ela esta fazendo Psicologia.
  - Sim, eu sei! Agente fazia faculdade juntas,
porem em áreas diferentes. Eu já estava no penúltimo período, quando ela
entrou. Eu que consegui essa casa pra ela.
  - Serio?
  - Sim. A Conheci na biblioteca começamos a
conversar e desde esse dia, não paramos mais... – Disse ela sorrindo. – Ela tem
me ajudado bastante!
  - Bia é uma ótima pessoa, saiu puxando á
minha mãe.
  - É verdade... E a pequena Luiza vai puxar á
ela. É um doce de menina. Ela e Laurinha quando se juntam, parece dois
furacões. Sai levando tudo que vem pela frente.
  - Por falar nela, não a trouxe para a festa?
  - Claro que sim! Ela deve estar correndo com
as outras crianças por ai... Elas têm uma pilha, não sei onde cabe tanta
energia num corpo tão pequeno igual aqueles. 
Os dois sorriam enquanto eram servidos. Por
alguns instantes, o silencio reinou sobre a mesa. Até que Alice começou
novamente:
  - Posso te fazer uma pergunta? Mas não vai se
ofender, esta bem...?
  Cauã engoliu seco e sentiu que começava a
suar.
  - Você acha que nunca mais vai conseguir se
apaixonar novamente por alguém?
Ele reparou
que Alice ficou corada e deu um leve sorriso:
  - Muitas pessoas dizem que não manda no
coração, ma isso é ridículo! Agente só se apaixona quando quer se apaixonar...
  - Também não é assim, Cauã. As coisas podem
acontecer sem que possamos perceber.
  - Se eu decidir não gostar de ninguém, eu não
vou me apaixonar mais!
A chuva havia
dado uma trégua nos últimos dias, mas o vento frio ainda percorria por ali.
Alice passava as mãos pelos seus braços com intenção de esquentá-los.
  - Você nunca pensou ou quis se casar, Cauã?
 Nessa mesma hora, Laura chegou até eles:
  - Tia Alice, preciso fazer xixi... Estou
muito apertada!
  - Esta bem, meu amor. Vou te levar ao
banheiro... Depois nos falamos mais, Cauã, senão essa aqui não vai me deixar
quieta. Foi muito bom falar com você! – Disse Alice já em pé segurando a mão de
Laura.
  - Foi um prazer falar contigo também, Alice.
Ela se
retirou  e Cauã deu graças a Deus por
Laura ter o salvado.

Continuação...

  - Obrigada meu bem, irei falar com ela. –
Disse Luzia.
  - Cauã pode me ajudar a levar os
refrigerantes?
 Ele se despediu dos pais de Luiza e seguiu Bia
pelo corredor que dava até a cozinha. Pegou os refrigerantes gelados do freezer
e colocou sobre a mesa. Depois começou a encher os copos que Bia espalhava
sobre a bandeja. Até que ele disse:
  - Achei muito bom os pais de Luiza terem
vindo.
 Bia se assustou:
  - Não te incomoda vê-los aqui?
  - Claro que não! Porque incomodaria? Tenho-os
como se fossem meus segundos pais.
  - Sei lá, eu pensava que sim. Por isso não
tive coragem de te contar que eles viriam. Eles são uma lembrança muito próxima
e viva da Luiza, então...
  - Mana, se eu fosse correr de tudo que me faz
lembrar ela, vou ter que me internar em um sanatório...
  - Mas você fez praticamente isso!
 Cauã parou por um minuto e olhou para Bia.
  - Me desculpa, não queria dizer isso.
  - Relaxa, vamos curtir a festa.
Ele colocou alguns copos na bandeja e foi
servir os convidados. Ao sair da cozinha, avistou Alice do outro lado da área,
próximo ao portão maior. Ela também o viu, mas como num piscar de olhos, ela
desapareceu.
 Ele começou a suar frio. Definitivamente ela
conseguia mexer com ele, ele só não entendia o porquê. Continuou a servir os
refrigerantes, e após todos estarem servidos pegou o seu próprio copo e sentou
sozinho numa mesa aos fundos do quintal.
  - Você está fugindo de mim? – Perguntou Alice
surgindo do nada.
 Cauã tomou um susto tão grande que até se
engasgou com o refrigerante.
  - Fugir de você? Por quê?
  - Bom, não aparece mais lá no parquinho,
quando está no quintal e me vê sair corre para dentro de casa novamente e hoje
evitou falar comigo o tempo todo.
  - Acho que está enganada, é apenas impressão
sua.
  - Tem certeza? Foi por causa do que aconteceu
lá no parque? Porque se foi...
  Cauã a interrompe:
  - Já disse que é apenas uma impressão sua.
  - Tudo bem! Então se não há nada demais, não
se importa se eu sentar aqui com você não é?
 - Fique a vontade... – Disse Cauã já
vermelho.
 Ao sentar-se ela continuou:
  - Bom, vamos começar do zero então. Como está
no seminário?
  - Daqui a alguns meses será o meu juramento,
e aí acaba tudo. Começo a atuar como padre de verdade.
  - E é isso mesmo que você quer?
  - Acredito que sim, senão não gastaria três
anos da minha vida com isso.
  - Entendo, também vou ter que tomar uma
decisão muito séria daqui a alguns meses. Vou me casar.
 Cauã tornou a se engasgar com o refrigerante.
Alice sorriu.
  - Que maravilha, que Deus abençoe a união de
vocês!
  - Obrigada. – Respondeu ela desanimada.
  - Desculpa, mas não estou sentindo você muito
feliz com esse casamento.
  - Na verdade ainda não sei se é isso mesmo
que eu quero.
  - Como assim?  
- Meus pais são amigos dos pais dele, e fazem
uma
  pressão enorme para eu casar com
ele. No começo era o que eu queria, mas com o passar do tempo fui percebendo que
era o que eles queriam pra mim. E isso me sufoca, até porque não tenho ninguém
pra conversar sobre isso. A Bia já tem problemas demais pra eu incomodá-la com
os meus.
 De repente ela parou e caiu em si:
  - Jesus, me desculpe Cauã acabei falando sem
parar e te enchendo com isso.

Continuação...

 A casa estava numa correria e numa bagunça
completa. O aniversario de Luiza se aproximava e havia muita coisa para fazer.
Os preparativos estavam a mil por hora. Ainda tinha alguns convites para
entregar, bolo para buscar, decoração para comprar, lembrancinhas para fazer...
O tempo
parecia não ajudar, não estava favorável para Bia, ainda bem que sua mãe e Cauã
estavam ali para ajudá-la.
Finalmente, o
grande dia chegou e Luiza não parava quieta um minuto.
No final do dia,
tudo estava perfeito. Os convidados começaram a chegar. Cauã viu de longe,
Alice chegar e tentou ficar o mais distante possível. Resolveu ir para a rua um
pouco, pegar um ar fresco.
 Lá fora sentiu alguém tocar no seu ombro e se
assustou:
  - Olá, boa noite, você poderia me dizer se é
aqui a festa de aniversário da Luiza?
  Ao virar-se, Cauã sentiu sua garganta secar.
  - Cauã? – Perguntou a mãe de Luiza.
Ele a abraçou com tanta força da mesma forma que
foi correspondido.
  - Meu Deus, quanto tempo meu filho... Bia não
me contou que você estaria aqui.
  - Há muito tempo que não via vocês. Sempre
que eu ia à casa dos meus pais tinha que ir embora antes de vocês chegarem...
Ela também não me contou que vocês viriam. Tudo bom Sr. Roberto? – Disse agora
cumprimentando o pai de Luiza.
  - Tudo sim, e você como está?
  - Bem, graças a Deus! Vamos entrar a festa
está começando agora.
  - Estamos felizes em te ver Cauã! – Disse Luzia.
 Cauã lhe deu um sorriso confirmando que também
sentia o mesmo. Eles seguiram Cauã pelo portão a dentro. Ao entrarem na casa,
Bia veio em sua direção:
  - Onde você estava? Te procurei pela casa
toda.
  - Eu estava lá fora tomando ar e olha quem eu
encontrei perdido lá na rua...
Ele saiu da
frente de Bia facilitando sua visão. Ela ficou sem cor na hora, mas se apressou
para cumprimentá-los antes que eles percebessem.
  - Que bom que vieram, podem ficar a vontade.
Mamãe está logo ali na mesa. 

Continuação...

 - É verdade eu era igual um palito.
 E assim passaram o resto da manhã conversando.
Depois do almoço Cauã levou Pedro e Luiza para o parque. Por sorte, hoje Alice
não se encontrava. Sentia-se aliviado, não sabia exatamente o porquê, mas não
se sentia bem com ela por perto.
 Estava feliz por estar perto da família
novamente, por saber que todos estavam ao seu lado, se sentia confortável e
seguro com eles. Há tempos não sabia o que era isso, aquela sensação de sempre
estar faltando algo, agora não existia.
 Quando voltou do parque com as crianças, havia
um silêncio na casa, as crianças ficaram no quintal. Cauã estava indo para o
banheiro quando ouviu Bia e sua mãe conversando no quarto:
  - O tempo está passando tão rápido. Luiza já
vai fazer quatro anos. Parece que foi ontem que você descobriu que estava
grávida, lembra?
  - Nossa mãe, nem me fale. E a cada dia que
passa ela está ficando mais parecida com o Cauã. É até engraçado, não imaginava
que minha filha iria se parecer tanto com o meu irmão.
  - Ela
parece mais filha dele do que sua...
 - E ela é tão apegada a ele, mãe. Parece que
os dois convivem todos os dias. Ela ama aquele tio demais... Sabe do que eu me
lembrei, se a Carla não tivesse perdido o bebê, o filho dele  já estaria quase com a idade de Pedrinho...
- Sim, eu e
seu pai erramos um pouco com ele naquela época, mas se agente não tivesse sido
duros com ele, hoje ele não seria tão maduro e responsável como é.
  - É verdade. Mas ele é uma pessoa muito
boa... Outra coisa que eu acabei de me lembrar, semana que vem faz 5 anos que
Luiza faleceu.
  - Caramba, é
verdade. Como passou rápido o tempo em filha.
  - Pois é mãe...
  - Os pais dela vão vir no aniversario de
Luiza?
  - Bom, eu os convidei, mas eles não
confirmaram ainda.
  - Será que o Cauã vai se sentir bem com eles
aqui? Tem uns quatro anos que ele não os vê.
  - Ele ainda não sabe que eu os convidei, mas
depois converso com ele...
 Bia encerrou o assunto quando ouviu os gritos
das crianças no quintal. Cauã, que ouvia tudo pelo corredor, apressou-se para o
quarto e fingiu estar procurando uma roupa para vestir.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Continuação...

Ele se sentou
no sofá.
  - Luiza, vai ajudar seu pai na cozinha.
Preciso conversar com seu  tio em
particular!
  - Poxa, mãe... Agora?
  - Agora!
 Ela saiu resmungando e assim que ela
desapareceu da sala, Bia virou-se para Cauã.
Ele ficou nervoso: “Será que ela iria brigar com ele de novo? – Pensou.
  - Desculpa Cauã. Não quis ter falado com você
daquela maneira hoje!
   - Eu sei que quis Bia. Você soltou o que há
muito tempo estava preso em você! Mas você tem toda razão, tenho que tomar um
rumo para minha vida.
  - Não diga isso, eu só explodi num momento de
raiva...
  - Está
tudo bem, vamos esquecer isso.
   
Ele se
levantou, foi até o quarto, pegou o porta retrato e o colocou de volta na
estante. Paulo entrou na sala com Luiza no colo e percebendo o clima chato
disse:
  - A comida está pronta, vamos jantar.
 Sentaram-se na mesa e só ouviam as vozes de
Paulo e Luiza. Cauã pediu licença e foi para o quarto novamente, no fundo ele
sabia que Bia tinha razão, mas não sabia como sair daquela situação. Ele também
sabia que estava agindo errado com sua irmã, ela não tinha culpa de seus
problemas.
 
Em alguns
meses iriam fazer seu juramento e então não haveria mais jeito, teria que tomar
logo sua decisão.
 Após colocar Luiza na cama, Paulo foi para seu
quarto:
  - O que está acontecendo entre você e Cauã?
  - Não é nada Paulo só tivemos uma pequena discussão,
mas vai passar.
  - Quer conversa?
  - Não obrigada. Estou cansada, preciso
dormir.
  - Tudo bem, boa noite, te amo.
  - Também te amo.
 Bia deu um beijo em Paulo e se preparou para
dormir.
                                           (...)

 Cauã acordou no outro dia bem cedo, antes de
todos. Preparou a mesa de café da manhã e sentou-se para esperar o resto do
pessoal descer. Paulo levantou-se e foi tomar banho, Bia desceu para preparar o
café. Se assustou ao ver a mesa toda arrumada.
  - Bom dia! Nossa, que mesa linda! – Disse
Bia.
  -Bom dia mana, gostou? Preparei especialmente
pra você. 
- Poxa,
obrigada. Não precisava.
  - Desculpa, sei que você tem razão sobre tudo
que me disse. Eu sou um egoísta, mas prometo me esforçar para melhorar.
 Bia se aproximou dele e o beijou na testa:
  - Eu sei que vai melhorar sim. Você sabe que
amo você e que pode contar comigo quando precisar.
   - Obrigado. Também amo você.
  - Hum, não vou te enganar, está um cheiro bom
vindo dessa mesa viu.
 Eles riram e tanto Cauã quanto Bia se sentia
melhor agora que o clima entre eles havia desaparecido.
                                                   ***

   Os dias passavam rápido  e o aniversário de Luiza se aproximava.
 Numa certa manhã Cauã
acordou ouvindo gargalhadas de criança, foi até a sala ainda meio sonolento e
descabelado. Ao se aproximar ouviu vozes cada vez mais reconhecíveis. Ele pode
ver agora, parado à porta que se tratavam de seus pais.
 Quando sua mãe lhe
viu levantou-se na mesma hora e lhe deu um abraço bem apertado, daqueles que
fazem perder a respiração.
  - Como você está meu filho? Tem tanto tempo
que não te vejo...
  - Estou bem mãe, mas se continuar a me
apertar assim, vou desmaiar por falta de ar. – Disse Cauã sorrindo.
 Todos sorriram também.
  - Desculpa filho, é que estava com muita
saudade.
  - Como está indo no seminário, filho? – Agora
era seu pai que o cumprimentava.
  - Está tudo bem pai, estamos quase
finalizando. Daqui alguns meses iremos fazer o juramento.
 E a partir daí, emendaram em vários assuntos,
colocando os papos em dia. Cauã sentiu outro aperto, agora em seu pescoço. Ao
virar-se viu Pedro sorrindo.
“Como ele havia esticado!” – Pensou.
 Quando o viu pela última vez ele estava com
seis anos. Ele estava enorme, até se assustou:
  - Meu Deus, o que vocês deram pra esse
menino? Como ele esticou...
  - Esse menino come o dia todo! – Disse seu
pai.
  - Só não engorda de ruim não é. – Cauã
continuou.
  - Ele puxou a você Cauã. Esqueceu como você
era magricelo na idade dele? – Disse Bia.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Continuação...

  - Como assim, princesa? Que tia Luiza?
  - A sua Luiza, tio. Mamãe falou que ela fez
uma viagem pra bem longe... Mas será que se você ou a mamãe chamar ela, ela volta
e vem na minha festa? É por que eu queria conhecer ela...
  - Olha minha pequena, - Seu corpo tremia
todo.- Acredito que ela não vai poder vir porque o lugar pra onde ela foi é
muito longe.
 Ela parou de caminhar, olhou para o tio e
disse:
  - Será que ela vai demorar pra vir embora?
 Cauã abaixou-se  até ela, olhou bem nos olhinhos dela e disse:
  - Acho que ela não vai voltar mais, meu
anjinho...
 Uma lágrima caiu dos olhos dele e ele sentiu
uma pequena mão limpá-la de seu rosto.
  - Não fica assim, tio. Vocês vão se ver de
novo...
 Luiza abraçou o tio que a pegou no colo a
levou até a escola, em um silêncio total. Assim que deixou Luiza na sala de
aula,retornou á casa de Bia. Sentia raiva e tristeza ao mesmo tempo. Por que
Bia havia mentido? Por que não falou que a Luiza nunca mais voltaria? Seu corpo
tremia todo  e ele sentia seu coração
pulsar desesperadamente.
Ao chegar em
casa, foi direto para a cozinha. Bia foi atrás ao perceber o nervosismo de
Cauã. Ficou preocupada ao ver o estado em que ele se encontrava.:
 - Aconteceu alguma coisa? Foi Alice de novo?
  - Porque não contou a verdade pra ela?
  - Que verdade? Pra quem?
  - A Luiza veio me perguntar hoje se eu achava
que a tia Luiza viria no aniversario dela, porque a mãe dela disse que a tia
Luiza tinha viajado pra longe.
  - Cauã, me desculpa... Ela é só uma criança,
não entende muita coisa ainda. Ela via as fotos de Luiza e me perguntava quem
era, então falei que era a tia dela,  sua
namorada e ai ela me perguntou onde Luiza estava. Eu não podia dizer que ela
havia falecido... Então inventei aquela historia!
  - Tudo bem, vou para o quarto. Estou com dor
de cabeça.
Ele saiu da
cozinha e ao passar pela sala, pegou o porta- retrato onde estava a foto de
Luiza com ele e Bia e se dirigiu para o quarto.
Bia ficou com muita raiva e foi atrás dele. Abriu a porta do quarto e
viu ele deitado na cama segurando a foto.
  - Senta nessa merda dessa cama, porque eu
quero falar com você!
 Cauã levantou-se rapidamente. Não se lembrava
qual tinha sido a ultima vez que viu Bia tão nervosa como estava naquele
momento.
  - Por alguns anos tentei levar você á “banho
Maria” por causa da morte de Luiza. Levava em consideração a tristeza que você
estava sentindo, o seu sofrimento. Mas você não se esqueça que eu também tive
uma perda,
ela
era minha melhor amiga. Enfim, tudo tem limites
e o meu acabou agora... Ou você sai dessa vida e toma
 um rumo para
ela melhorar ou mergulha de cabeça no seminário e fica se escondendo pro resto
da vida. E vou te dizer uma coisa: Eu tenho pena da pessoa que você se tornou,
Cauã. E pelo o que eu conhecia da minha melhor amiga, ela deve estar muito
decepcionada com você!
 Cauã tentou
argumentar, mas foi em vão.
  - Mamãe e papai vão chegar depois de amanha
com o Pedrinho. Ligaram avisando ontem à noite para confirmar. Falei pra ela
que você esta aqui e ela ficou super feliz... Afinal, vai fazer mais de um ano
que ela não te vê, não é? – Finalizou Bia.
  Terminou de dizer tudo e saiu do quarto
batendo a porta. As palavras dela martelavam na cabeça de Cauã. Ele virou-se de
lado na cama e acabou adormecendo em seus conflitos.
 Após algum tempo, ele acordou. Sentiu que
havia tirado um cochilo. Ouviu vozes vindas da sala. Levantou-se, pegou sua
toalha e foi para o banheiro tomar banho. Vestiu-se e ao chegar á sala, reparou
pela janela, que já havia escurecido... Assustou-se. Quanto tempo ele havia
dormido? Ele reparou também, que agora, ao contrario, Luiza e Bia estavam na
sala e Paulo na cozinha preparando o jantar.
 



Continuação...

Cauã sentiu seu rosto pegar fogo: 
  - Desculpa, preciso ir embora. Cheguei a pouco tempo de viagem, estou muito cansado. Outra hora nos falamos mais.
  Ele virou-se para Luíza:
  - Lu, vamos embora. Esta ficando tarde, precisamos ir. Com licença, Alice.
  - Me desculpa pelo o que eu disse, não quis ofendê- lo.
  - Não se preocupe, não é a primeira vez que eu escuto isso! - Disse Cauã sorrindo, tentando quebrar a tensão.
  Alice se levantou para se despedir dele e ao cumprimentá-lo com um beijo no rosto, acidentalmente, acabou virando para o mesmo lado que Cauã, causando um selinho entre os dois. 
Na mesma hora, as reclamações de Luíza pararam e ela ficou paralisada, com os olhinhos arregalados para os dois.
  - Meu Deus, tudo resolveu acontecer hoje! Me desculpa de novo... Jesus, como sou desastrada! 
  Cauã ficou tão desnorteado que não conseguiu falar muita coisa além de :
  - Preciso ir...Tchau! 
E saiu carregando Luíza pela calçada a cima. O silêncio ficou por alguns minutos, até que Luíza disse:
  - Tio, você esta namorando com a tia Alice?
  - Claro que não, minha princesa. Foi só um acidente. Não conta nada pra sua mãe, esta bem?
  - Esta bem, tio.
  Assim que chegaram em casa, Cauã abriu a geladeira e pegou um pouco de água. Sentia sua garganta seca. Bia quebrou  o silencio:
  - E ai, minha sujeira...se divertiu lá no parque com seu tio? 
  - Sim mamãe, muito! Pulei nos brinquedos e subi no escorregador um monte de vezes.
  - Nossa, que maravilha! Agora vamos tirar essa roupa e tomar um banho, pra quando seu pai chegar, você estiver limpinha e cheirosinha. Você não aprontou muito com o seu tio lá não, né?
  - Eu não, mãe. Quem aprontou foi o tio Cacá. 
Cauã se engasgou com a agua que estava bebendo e na mesma hora lançou um olhar para Luíza, que não parava de rir. Não tinha adiantado nada pedir pra ela não contar.
  - Como assim, "aprontou" ? O que ele fez? - perguntou Bia, sorrindo.
  - Ele beijou uma mulher, igual você beija o papai...
  Bia olhava para Cauã agora. Ele deixou o copo cair.
  - Filha, mamãe já disse que mentir é feio, ainda mais com uma coisa dessas...
  - Não estou mentindo, mãe. Eu juro! 
  - Luíza, chega! Você quer ficar de castigo? 
  - Mas mãe, eu já falei que não estou mentindo...
  Bia virou-se novamente para Cauã:
  - Por que ela esta falando isso?
  - Ela não esta mentindo... Mas também não beijei nenhuma mulher!
  - Não estou entendendo aonde você quer chegar com isso!
  - Fui me despedir de uma moça que eu conheci lá no parque, que por sinal é sua vizinha e acabamos nos atrapalhando. Foi apenas um selinho, um acidente.
  - Que vizinha?
  - A tia Alice, mãe! 
  - Luíza, fica quieta! Agora é uma conversa de adultos! Você conheceu Alice?
  - Sim...
  - Depois nós conversamos. Vou dar banho na Luíza.
  Bia saiu carregando Luíza para o banheiro. Assim que terminou o banho , arrumou ela e a colocou na sala para assistir televisão. Foi para a cozinha preparar um lanche,pois Paulo chegaria a qualquer momento. Cauã já estava na sala:
  - Sua fofoqueira. Não tínhamos combinado que não iria contar pra sua mãe? 
  Luíza começou a rir.
  - Desculpa tio, mas é que foi engraçado. 
  Antes que Cauã pudesse falar qualquer coisa,Bia disse da cozinha:
  - Cauã, pode me ajudar um pouco aqui na cozinha?
  - É tio, acho que você esta encrencado. 
  - Por sua causa, mocinha!
Luiza sorriu novamente. Cauã sabia que não era pra ajudar na cozinha e sim para saber sobre o suposto "beijo"  que ele teria dado na vizinha. 
Ele se
levantou e foi até a cozinha, sentou-se na mesa e começou a cortar os tomates
que estava sobre a tabua em cima da mesa.
  - Pode me explicar agora, o que houve no
parque?
 Cauã contou a história toda. Bia não sabia se
ficava aliviada ou se entristecia. Paulo chegou do trabalho:
  - Nossa, que cheiro bom que esta saindo dessa
cozinha! – disse dando um beijo em Bia.
 Luiza veio correndo e pulou no colo do pai,
que saiu carregando-a de volta para a sala após cumprimentar  Cauã. Logo depois do jantar ficar pronto,
eles comeram , conversaram um pouco na varanda e foram para a cama dormir.
 No outro dia bem cedo, Bia levantou para levar
Luiza para a escola.
  - Bom dia, Paulo... Bom dia,maninha! Se
quiser,Bia, eu levo a Luiza para a escola.
  - Não precisa se incomodar, Cauã.
  - Que isso, faço questão! E também, é bom que
vou conhecendo um pouco da cidade...
  - Tem certeza?
  - Claro!
  Bia pegou as coisas de Luiza e entregou para
Cauã. Assim que tomaram café, ele pegou Luiza e saíram andando. A escola ficava
a alguns quarteirões e eles caminhavam pela calçada. Até que Cauã se
surpreendeu com a pergunta de Luiza:
  - Tio, você acha que a tia Luiza vai vir no
meu aniversario?
  Cauã sentiu seu sangue ferver e sua boca
secar:

sábado, 21 de janeiro de 2012

2º Temporada de O diário de Luíza.

" Estávamos quase no final de junho, o inverno tinha acabado de chegar. Ouvia pela janela os pingos da chuva batendo no vidro da janela  e o vento que castigava os galhos das árvores lá fora. 
 Bia havia me convidado para passar uns dias com ela. Além de ser o aniversário da pequena Luiza, eles estavam comemorando a casa nova. 
  Era uma cidadezinha bem calma, onde se viam crianças brincando pela pracinha,logo á frente havia um parque onde tinha um logo em que os patinhos passavam a maior parte do tempo. Parecia até o parque de Madalena, onde Luíza gostava de ficar.
  Logo que entrei para o seminário, quase não via mais a minha família. Em quase 3 anos, só os vi quatro vezes: sempre no natal e em um aniversário de casamento dos meus pais. 
 Estar indo para a casa de Bia, era uma oportunidade para tentar conviver com eles novamente..."  


                                                                                  ( ... ) 

Assim que Cauã chegou, a pequena Luiza foi abraça-lo, seguida de Paulo e Bia. 
  - Como vai a minha pequena? - ele disse.
  - Eu estou bem, tio.
  - Como você esta grande mocinha, o que sua mãe anda te dando?
  - Essa menina come tudo que vê pela frente. - disse Bia sorrindo. 
  Cauã colocou Luiza no chão e agora cumprimentava Paulo e Bia:
  - Como esta Paulo? Oi, Bia... tudo bem, mana?
  - Que bom que veio Cauã, falei com Paulo que você iria vir,mas ele não acreditou! Eu estou bem, melhor agora!
  - Como vai cunhado? Eu estou ótimo. Pra ser sincero, não acreditei mesmo não. Você vive ocupado desde que entrou para o seminário, se isolou...
  Bia deu uma cotovelada em Paulo e disse:
  - Não liga pra o que ele esta dizendo, maninho!
  - Está tudo bem, Bia. Ele esta certo! Desde que entrei para o seminário, não tive mais vida social.
  - Vamos andando? Coloque suas coisas no carro. - disse Bia rapidamente, mudando de assunto.
  Cauã sentou ao lado de Luiza no carro:
  - Tio, sabia que meu pai vai fazer uma festa bem grandona pra mim?
  - Nossa...serio? E como vai ser essa festa? 
  - Sim! Vai ser das princesas e eu vou ganhar um montão de presentes...
  - Mas que menina sortuda, gente! Você vai me dar um pouco dos seus presentes?
  - Te dou sim, tio...Metadinha! - disse ela sorrindo. 
  Cauã começou a morde-la e a beija-la sem parar. Depois de alguns longos minutos, estacionaram o carro. Luiza, já toda eufórica,começou:
  - Tio Cacá, você tem que ver o meu quarto, é todo rosa e minha mãe colocou um monte de bonecas lá. 
  Ela pegou a mão de Cauã e começou a puxar pra dentro do quintal:
  - Acalme-se Luiza. Deixa seu tio respirar... - disse Paulo.
  - Não se preocupe, Paulo. Adoro ficar com ela.
Paulo nunca aceitou o fato de Cauã ter entrado no seminário no intuito de fugir do sofrimento que a morte de Luíza havia lhe causado. Bia o deixou sozinho com Cauã e foi para a cozinha terminar de preparar o almoço. Ao olhar para a instante, Cauã viu uma foto onde tinha ele, Luíza e Bia numa festa de natal. Ele levantou do sofá e se aproximou do porta-retrato. O sorriso vivo da Luíza, era presente na foto.
  " Como era linda a minha Luíza..." - ele pensou.
  Paulo interrompeu seus pensamentos:
  - Você ainda não se esqueceu dela, né? 
  - Sei falar que sim, estarei mentindo... - ele riu. - Ela tinha um brilho, um jeito diferente de viver, uma alegria inexplicável que marcou a minha vida!
  - Se você gosta tanto dela ainda, porque não desiste dessa ideia maluca de virar padre? Tenho certeza que ela não está nem um pouco feliz com isso...
  - Não é tão fácil assim, como parece! Eu precisava de uma base pra me apoiar, senão eu ia cair junto com ela. E essa base eu encontrei lá.
  - Mas isso foi naquela época, mano. Você é um homem hoje e é muito mais forte do que pensa. Já superou tanta coisa, tenho certeza que pode superar isso também. Basta se permitir... Tu tem que acordar pra vida, viver um dia de cada vez. Não pode parar a sua vida porque a Luíza se foi.Ela não quer isso pra você...
  - Eu sei, eu sei. Mas confesso que ainda tenho um pouco de medo!
  - Não precisa ter! Eu e a Bia, juntamente com sua família e amigos, estamos aqui pra te apoiar... Já se passaram quase 4 anos que ela morreu. Você precisa retornar a sua vida, meu amigo.
  - Você esta certo... Vou pensar nisso! 
  Bia entrou na sala e os convidou para sentarem na mesa, pois o almoço já estava pronto. Paulo deu uns tapinhas nas costas de Cauã e se encaminharam para a sala de jantar. Após o almoço, Paulo voltou ao trabalho e Bia foi lavar umas roupas de Luíza. Então, Cauã resolveu levar a pequena no parque.Enquanto ele observava Luíza subir e descer pelo escorregador, pensava em sua vida, nas coisas que Paulo havia falado pra ele, se realmente havia tomado a decisão certa pra ele mesmo. Se assustou ao sentir uma sacola cair sobre os seus pés:
  - Ai, me desculpa! Me atrapalhei toda aqui e acabei derrubando tudo em cima de você! 
  - Que isso, está tudo bem! - disse ele, pegando a sacola do chão. 
  Ao levantar sua cabeça, Cauã deparou-se com uma mulher ruiva, de cabelos cacheados e olhos castanhos, tinha umas pequenas sardas no rosto e demonstrava estar bastante envergonhada. Ela apressou-se em se apresentar:
  - Obrigada! - disse, pegando a sacola da mão de Cauã. - Me chamo Alice, prazer!
  - O prazer é todo meu, Alice! Me chamo Cauã. - disse ele, meio desajeitado.
  Já havia algum tempo que ele não tinha nenhum contato com uma mulher.
  - Posso me sentar com você, até eu organizar essa bagunça de papéis aqui? - perguntou ela, mostrando uma pasta cheia pra Cauã. 
  - Sim, claro! Me desculpa a falta de educação...
    Alice sorriu:
  - Não foi nada! Mas então... É novo por aqui? Mudou-se a pouco tempo?
  - Não, vim passar uns dias na casa da minha irmã. Mas não pretendo demorar, tenho muitas coisas pra resolver.
  - Entendo!
  Ela o olhou bem nos olhos.
  - Você não me é estranho. Tenho a impressão que já te vi em algum lugar. Já veio pra esses lados?
  - Não, é a minha primeira vez!
  - Ah sim... Que mal lhe pergunte, quem é sua irmã?
  - Beatriz... Ela mora na rua de cima.
  - A esposa do Paulo, advogado?
  - Sim, ela mesmo. Você a conhece?
  - Claro, ela é a minha vizinha! Moro do ladinho da casa dela. Conversamos quase todos os dias pelo muro. 
  Ela sorriu e continuou:
  - Hum, agora sei de onde eu te conheço! Ela já me falou de você, me mostrou algumas fotos. Você está num seminário, não é isso? Vai virar padre... 
  -Isso mesmo! Vejo que já me conhece bem. 
  Os dois sorriram. 
  - Me desculpa a indelicadeza, mas acho um desperdício você virar padre!